Acervo inclui até cartas de Gilberto Freyre e Jorge Amado
O bibliotecário José Olympio começou sua carreira abrindo caixas de livros na Casa Garraux, importante editora do início do século XX. Décadas depois, é a vez de os funcionários da Biblioteca Nacional repetirem o ato: a coleção da Editora José Olympio acaba de ser doada à instituição. São 6.094 livros, além de fotos, manuscritos e até notas fiscais assinadas por Jorge Amado.
A Coleção José Olympio foi recebida pela BN em setembro do ano passado, após três meses de negociações com Geraldo Jordão, filho de José Olympio, e com a família do ex-presidente da Xerox, Henrique Gregori, que havia herdado o acervo. Até então, os livros ficaram mais de dez anos guardados em bom estado num depósito na Penha, subúrbio carioca.
Fundada em 1931, a Editora José Olympio foi responsável pela publicação de livros marcantes na história do país, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e as obras completas de Gilberto Freyre, José de Alencar, José Lins do Rego, Manuel Bandeira e Guimarães Rosa. Há cerca de dez anos, a José Olympio foi vendida à Editora Record, mas as obras originais não fizeram parte do acordo. Foi assim que elas acabaram por encontrar abrigo na BN.
Entre as preciosidades contidas no acervo, há um exemplar da primeira obra publicada pela editora, o livro Conhece-te pela psicanálise, de J. Ralph, e da primeira edição de Jubiabá, de Jorge Amado, publicado em 1935, com nota fiscal confirmando o pagamento, assinada pelo próprio autor. Há também uma carta manuscrita de Gilberto Freyre, de 1969, a respeito de um livro que a editora pretendia montar, publicando todas as cartas que ele havia trocado com intelectuais. Além disso, há dezenas de imagens, como a foto em que José Olympio aparece cercado por José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade, Candido Portinari e Manuel Bandeira.
Coordenadora de serviços bibliográficos da BN, Mônica Rizzo Soares Pinto explica que a chegada da Coleção José Olympio dá à Biblioteca Nacional uma oportunidade de preservar uma memória não só bibliográfica, mas editorial: “O acervo, com fotos, recibos e cartas, conta a história da própria editora, que sempre privilegiou os autores brasileiros. Ela não era uma entidade filantrópica, mas tinha um apreço especial pela literatura nacional” . Mônica Rizzo diz que o ideal seria que a coleção ficasse em uma sala própria. Mas pelo tamanho do acervo, isto acaba sendo inviável. Por isso, a Biblioteca vai disponibilizar fotos, manuscritos e outras curiosidades no próprio portal da instituição.
Por Maria Cecília Isaurralde
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