terça-feira, 20 de maio de 2008

A José Olympio e a influência na história do país


Grupo da esquerda para a direita: José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, José Olympio e Manuel Bandeira.Rio de Janeiro, década de 50.


O prestígio da José Olympio, embora não se abalasse com questões políticas, por conta da imparcialidade de seu dono J.O., era alimentado por autores partidários, de fato.
Era um tempo de muitas tensões e embora os autores editados pela José Olympio fizessem parte da elite intelectual do país (frisando que a maioria dos mais importantes autores daquela época eram editados por J.O.), nem tudo eram só flores. A livraria era um local democrático, onde todos os pensamentos e ideologias eram discutidos, tanto conservadores, quanto opositores ao governo de Getúlio Vargas, de quem J.O. era amigo. Grande parte dos autores que divergiam em partidarismo político não se davam bem.


Jorge Amado, por exemplo, rompeu com a livraria por questões políticas, após o início do Estado Novo; ele ficou magoado, pois J.O., na lista de autores que apareciam na propaganda da livraria, colocou o nome de Plínio Salgado (autor que apoiava o governo getulista) antes do seu.


Em 1942, quando a Alemanha começava a perder a potência e os Aliados avançavam para, posteriormente, vencer a II Guerra Mundial, os ânimos no Rio de Janeiro estavam exaltados. As passeatas de estudantes começavam a ir às ruas e surgiu, também, o primeiro movimento intelectual de oposição: a Associação Brasileira de Escritores (ABDE), em prol da luta pelo restabelecimento da liberdade de expressão. Dentre os fundadores da associação, estavam alguns editados da José Olympio: José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Sérgio Buarque de Holanda. Mesmo não apoiando ou recriminando nenhum tipo de movimento – a não ser os concursos para descobrir novos talentos da literatura – a livraria era um antro de formação de opinião, afinal, nessa época de efervescência política, quem não tinha opinião formada, era só ir até a livraria para ouvir sobre várias diferentes.


Nessa época, mais ainda, a livraria ficava cheia de autores, mas o assunto quase não passava mais pelos sucessos de lançamentos recentes, dando lugar às discussões efervescentes sobre política. Depois da tarde na livraria, a maioria partia para o Amarelinho, o Juca’s Bar ou mesmo para o Bar Brasil, na Lapa, para dar continuidade à prosa. Mas a maior reunião democrático-esquerdista acontecia no bar Vermelhinho, no Centro, em frente à Associação Brasileira de Imprensa.


J.O., além de respeitar ambos os lados, sempre foi um bom amigo. Quando Graciliano Ramos foi preso em 1935, por participar da Intentona Comunista, ele foi intervir a favor do autor e, com a ajuda de Zé Lins do Rego, conseguiu ser bem-sucedido e o amigo saiu logo da prisão.


A Livraria José Olympio Editora não foi apenas uma roda literária do Rio de Janeiro (como existiram muitas). Ela foi uma das grandes incentivadoras da literatura brasileira – que, de certa forma, começou a desenvolver-se por conta da impossibilidade da exportação de obras vindas da Europa durante a guerra. Foi a editora da maioria dos grandes nomes da literatura na época – e muito generosa, fazendo tiragens em números nunca vistos antes.


A José Olympio não foi só uma livraria como outra qualquer, como essas grandes que vemos hoje em dia, nas quais os vendedores não sabem te dar sequer uma informação sem consultar o computador. Ela foi formadora de opinião, com obras de qualidade, mesmo num país em que mais da metade da população não sabia ler. Ela é parte importante da história do país.


Por: Úrsula Laino de Oliveira.

Nenhum comentário: