terça-feira, 27 de maio de 2008

Um País de Leitores

Ziraldo disse que o país precisava de leitores. Lembro dele afirmando isso desde que me conheço por gente, basta procurar qualquer entrevista dele em revistas especializadas. É de autoria do próprio a frase estudar é muito importante, mas ler é mais importante do que estudar.

Concordo plenamente com a postura do Ziraldo e sua defesa pela leitura. O Brasil realmente precisa de mais leitores, até nossos hermanos argentinos lêem mais livros que nós (pois é, nisso eles ganham dos brasileiros de goleada).

Sempre pudemos contar com as livrarias, seja as pequenas ou as grandes. Das pequenas não tenho muito o que comentar pois sempre souberam adaptar-se ao tempo ao mesmo tempo que mantiveram sua personalidade, caso contrário não estariam até hoje. Agora, quanto as grandes livrarias eu só tenho uma coisa a dizer: são livrarias-clone.


Sim, livrarias-clone. É o que posso dizer das grandes livrarias. Todas iguais. Todas atendem iguais seus clientes, com uma mínima variação, alguns mais atenciosos, outros mais displicentes. Mas isso não importa: são todas iguais. Todas iguais no tratamento do comércio de livros. Quem diz que livros não vendem no Brasil deve ser cego ou cético. Basta ir até algum centro de comércio de qualquer cidade de médio porte para cima: com certeza uma Saraiva, Nobel, Vozes ou Laselva estará lá. Não questiono que as livrarias têm de lucrar.


Assim como negócio, as empresas destas grandes livrarias precisam do dinheiro para manter-se no mercado. Nada contra, afinal é assim que as coisas funcionam. Cresci em meio aos livros. Minha mãe, professora de português sempre me manteve com um livro por perto. Meu pai tem uma coleção de livros invejáveis Aprendi com meus pais a amar a leitura, seja ficcional ou didática. Se sou uma pessoa melhor, foi por causa do enorme esforço que meus pais tiveram para que eu apreciasse a leitura. Sempre gostei de livrarias. Desde moleque que quando vou ao shopping, eu me escondo nelas e fico folheando os livros interminavelmente até que um funcionário mal educado me convide “gentilmente” a me retirar (Podem imaginar como eu era barulhento).


Agora, como adulto, sempre gosto de dar uma passada na livraria local, qualquer ela seja para dar aquela folheada tradicional, só que sem toda a barulheira de quando criança, claro. Nesses anos que se passaram, eu vi as livrarias crescerem em número. Ficaram maiores, espaçosas, com espaço para leitura, não vendem somente livros, mas música, periféricos de informática e artigos de papelaria. As pessoas não entram somente para comprar livros, mas para diversos fins, que muitas vezes (eu até diria “na maioria das”) nada tem a ver com a aquisição de um romance. Os livros se tornaram um grande negócio. Assim como roupas e música, temos os “livros da Moda”. Quando um filme de sucesso baseado em um livro ou série de romance é um estouro de bilheteria, temos os “leitores de modinha”, que lêem o romance apenas para “estar sintonizado”. Não estou brincando, basta conferir.


Um variante é um livro que tenha excelente publicidade na mídia e todos começam a comprar não porque gostam de ler, mas sim por puro consumo e modismo. Fora isso, temos os sempre batidos Auto-ajuda emocional e profissional e os livros didáticos e técnicos. A vasta maioria das vendas se resumem a isto, deixando os outros livros a mofar nas prateleiras. Quando entro em livrarias deste tipo, sempre sou atendido por um funcionário que, por mais que se esforce em me passar o contrário, não sabe nada do que está vendendo.


Ele é um funcionário, não alguém que tenha o amor pelos livros. Ele pode até gostar, mas não tem aquela finesse do dono de livraria pequeno, que lê os livros que está vendendo. Alguns sequer sabem das coisas mais básicas de seus “produtos”.Entrar em uma loja destas mega-livrarias é a mesma coisa que entrar em todas as outras. Até mesmo nas do concorrente. Aliás, é igual entrar em uma Casa Bahia ou Ponto Frio, pois o atendimento dos funcionários que vendem eletrodomésticos é igual os dos funcionários das livrarias.

Os livros são tratados como mais um produto a ser comercializado, como se fosse um fogão ou aparelho de som. E o povo consumista consome, devora e absorve os livros “da moda” para, depois relegar ao esquecimento em suas prateleiras ou mesmo trocar em sebos.

Nada contra os sebos, eu adoro, sempre gostei muito de freqüentar os sebos da Penha à cata de gibis e romances. Mas eram gibis e romances de edições passadas. Cheguei a encontrar até mesmo preciosidades a preços módicos.

Hoje, os sebos estão entulhados de livros novos em perfeito estado de conservação. Passe por lá, você, com certeza vai encontrar livros que já foram moda, sendo vendidos apenas um pouco mais baratos. Livros novos disputam lugar com livros antigos, que não são mais publicados. Interrogados sobre isto, os donos de sebos dizem que é muito comum, especialmente entre os jovens.Ziraldo dizia que o Brasil precisava de leitores. Concordo plenamente. Agora temos leitores. Mas não era exatamente este tipo de leitor que se tinha em mente.


Por Leonardo Borba Crivaro.
Colaborou Adriana Gomes.

Nenhum comentário: